Protelar.
Parece ser esta a palavra do dia. Pelo menos para o Presidente da
República que mostra estar disposto a ouvir meio mundo e arredores,
tudo com o objectivo de protelar, protelar, protelar. Essa é a
palavra de ordem. Um sinal inquietante, por duas razões: a primeira
porque mostra que Cavaco Silva está contra uma solução legítima
saída do Parlamento, estando portanto contra o próprio Parlamento e
contra a vontade dos cidadãos; por outro lado, importa ter em conta
os custos que uma demora na decisão acarreta, a paralisação a que
o país estará sujeito é prejudicial para todos.
Mas
tudo pode ainda piorar, basta para isso, e depois da demora, o
Presidente da República recusar a solução de esquerda, deixando
Passos Coelho em gestão. Num contexto em que impera uma maioria de
esquerda no Parlamento teria a sua componente cómica não fossem as
consequências graves dessa decisão.
Todavia
há muito em jogo, o que justifica quer a demora na apresentação de
uma solução, quer a eventualidade de um governo em gestão. A
aliança à esquerda, envolvendo o PCP, implica uma mudança de
paradigma com a qual a direita não sabe lidar; os interesses
instalados não vêem com bons olhos uma solução de esquerda -
veja-se a fúria dos comentadores e até de representantes políticos.
Uma direita assanhada como não se via há décadas.
Cavaco
Silva já revelou ser incapaz de se manter equidistante relativamente
aos programas dos partidos políticos e
já mostrou estar disposto a protelar isto até aos limites do
possível. Será que está disposto a arrastar o país para um
período de acentuada instabilidade com recurso a um governo de
gestão? Se sim, assistiremos a um dos exercícios mais
irresponsáveis de que há memória.
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