Sob os auspícios de uma comunicação
social concentrada em grandes grupos económicos, empenhada em
salvaguardar os interesses desses mesmos grupos e pressionada pela
profusão de outras plataformas que invadem o espaço público, o
cidadão distrai-se com o acessório, perdendo de vista,
axiomaticamente, o essencial. E assim se vai construindo uma visão
exígua da democracia.
A democracia só se constrói com a
participação efetiva dos cidadãos, que se pretende que se
mantenham vigilantes, garantindo deste modo que o Governo se mostre
responsável. Essa vigilância ainda se torna mais imperativa quando
o Governo defende interesses que não se coadunam com o interesse
comum e quando os poderes e contrapoderes – próprios das
democracias – falham: um Governo empenhado na defesa de interesses
que não são os dos cidadãos; um Governo que despreza e desrespeita
os cidadãos; um Governo empenhado no empobrecimento – numa
verdadeira antítese do que é a política -; uma maioria que
sustenta cegamente esse Governo; um Presidente que serve apenas para
apoiar as medidas suicidas do Governo; e cujo único travão tem sido
aquele imposto pelo Tribunal Constitucional
Ora, não podemos falar de um povo
vigilante que, com facilidade esgota o seu tempo a discutir a saída
de um treinador de futebol, um povo que vê essa sua discussão
animada por uma comunicação social pouco interessada em dar
qualquer contributo para a construção de uma democracia mais
participativa.
Assim, neste contexto, e quando a
efemeridade própria destas futilidades fazem esquecer a discussão
mais desenfreada, resta um vasto conjunto de cidadãos resignados
perante as injustiças e que alimentam a falsa ideia de que a
responsabilidade não é sua. A responsabilidade é de todos nós,
sobretudo daqueles que nada contribuem para a construção de uma
democracia consolidada e que, ao invés, fomentam a referida visão
exígua da democracia.
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